sábado, 7 de maio de 2011

Que suburbano sou eu? Em que academia fui me meter?!




A escolha do tema do Periferia na Academia se deu por termos em nosso convívio pessoal figuras com o perfil acadêmico, de constante produção científica e que literalmente atravessaram uma cidade para chegar onde estão.

Trata-se de pessoas advindas de regiões metropolitanas da Cidade de São Paulo, consideradas periferias, e que contrariando as estatísticas conseguiram burlar o falho sistema educacional e atingir o status que consideramos aqui neste blog como "produtores científicos".

Como complementação das discussões aqui propostas, apresentaremos alguns depoimentos de pessoas dentro do perfil analisado e o primeiro deles é de Luciano Vieira Francisco.

Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Assunção (UniFAI), Luciano é Arquivista em uma empresa privada do segmento de Engenharia e possui experiência como docente universitário e tutor de plataformas de Ensino à Distância (EaD). Mantém um blog de Metodologia do Trabalho Científico e Ciência em geral chamado "Conhecendo a Metodologia". Para saber mais acessem: http://www.conhecendoametodologia.com.br/ e http://lattes.cnpq.br/7618493463937143.

As meninas do blog Periferia na Academia pediram que eu registrasse um relato de vida (acadêmica?). Ainda que me custe acreditar que exista algo digno de interesse público, aceitei o pedido. Daí que as linhas que se seguem sintetizam meu esforço em revolver um passado aos olhos sociais mais pródigo do que prodígio, confesso, mas que se pretérito, subjetivo o suficiente para tentar enxertar algumas mentiras no meio das verdades (e vice-versa).
Hoje, enquanto pleiteio uma vaga no Doutorado em História Social na Universidade de São Paulo (USP), imagino qual resposta sacaria para a eventual pergunta sobre qual o diabo do meu interesse em agregar mais esse título na minha empoeirada pasta de certificados e diplomas.
Plano de carreira?
Reinserção no mercado de trabalho educacional? Afinal, estou desempregado.
Benefícios de colocação em concursos públicos?
Complexo peniano?!
Quem sabe um pouco de cada uma dessas sugestões, talvez algumas ou nenhuma delas. Vai saber se haveria demagogia em dizer passionalmente que se trata de franco prazer. Fato é que não seria sincero ou medidamente irônico se desconsiderasse o tesão da possível resposta que dispararia (ou que acabo de posterizar).
Que me perdoem os sociólogos, antropólogos culturais, os ativistas e demais jacobinos, quando esses atacam o sistema periférico de ensino escolar e familiar, mas se algo permaneceu ao longo da minha lida, na periferia e academia, foi a fascinação em perseverar nas escolhas de meus estudos.
Tal paixão determinou, por exemplo, o riso como objeto doravante de meu Doutorado, o mesmo assunto que me relaciono desde o Mestrado (também na USP). Quando dizem que não se trata de um tema sério, mais eu me contento e revigoro a certeza de que tomei a vereda correta: da satisfação pessoal e não dos outros.
Enamorado também estava pela pedagogia no Ensino Superior quando a cursei em minha Especialização, no Centro Universitário Assunção (UniFAI). Pretexto para o gozo em não me melindrar de fazer da monografia um manifesto (metodologicamente verificável) contra as incoerências e fixação propedêutica e excludente do sistema vestibular vigente em nosso país.
Na Graduação a opção pela História foi a escolha aos carnavais de Ouro Preto e o afã em viver nas repúblicas estudantis e... mistas. Contudo, melhor que estudar na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), cursar a Licenciatura gratuita da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL), no tão suburbano quanto paulistano bairro de São Miguel Paulista, me deu visibilidade da vida adulta, nos prêmios que recebi e, entre esses, a prenda mais importante: uma colega de curso que se tornou amiga, para depois namorada e, hoje, esposa e meu grande amor. Evidente que o prazer também me norteou nesse período, sem dúvida!
Fazer do mundo meu “escritório de trabalho” foi o ímpeto juvenil e “revolucionário” na escolha pelo curso tecnológico de Turismo no Centro Paula Souza (CEETEPS). No topo dos meus rasgados dezessete anos, entusiasmei-me em acreditar que poderia “conhecer o mundo inteiro sem gastar nem um tostão”.
Do Ensino Médio público e periférico, recordo-me dos “grupos de estudo”, onde aprimorávamos, eu e os colegas de classe, nossos conhecimentos em Química, fazendo das garrafas etílicas nossos tubos de ensaio, dos seus conteúdos nossas substâncias e, ébrios, de nossos organismos os objetos de estudo. Não raro também desafiávamos as teorias da Física Moderna nas mesas de bilhar, desde o deslocamento dos corpos esféricos e coloridos à relatividade do tempo de cada um desses “estudos práticos”. Como disse no início, nada de épico, muito menos elogiável, mas agradavelmente vivido.
Do Ensino Fundamental não trago muitas lembranças. Não que meu 1º Grau tenha desbotado da memória, mas nela está exilado um mosaico de sensações, em posição bem cativa. Do cheiro dos livros didáticos novos que recebíamos, passando pelo gosto encorpado da polenta servida na merenda, até a reminiscência mais latente: uma aula de Geografia onde fomos a campo para estudar a Geologia nos terrenos baldios que circundavam nossa escola. A sensação de amassar a argila às formas e cores que quisesse é ainda tão vívida que se, de olhos fechados, esfregar minhas mãos, posso sentir a massinha entre os dedos, moldada aos contornos que minha infantil criatividade consagrar.
Durante as escolhas dos parágrafos anteriores autobiografados, inclusive em seus saltos e tropeços, orgulho-me em ter aprendido cedo que os conselhos que nos dão, elogiosos ou não, servem tão somente para revelar o que essas pessoas esperam de nós, pois seus interesses, passados ou futuros, são fundamentados por suas próprias vidas (na berlinda entre a moralidade coletiva e a frustração pessoal de cada um desses “conselheiros”).
Como somos os maiores interessados sobre nós mesmos, acredito francamente que será sempre a autocrítica a melhor forma de avaliação sobre as próprias motivações, condutas e, principalmente, aspirações. Essa seta do tempo na vida de cada um pode ascender independente do meio em que estivermos, das influências que nos sopesarem e das estatísticas que nos etiquetarem.

Luciano é o segundo da esquerda para direita (único que não está olhando para o fotógrafo!)

2 comentários:

  1. Mas de onde esse Luciano é?

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  2. Olá "Anônimo"!

    Como dissemos acima, Luciano é mestre em História Social pela USP e atualmente trabalha como Arquivista em uma empresa do ramo de Engenharia. Ademais, possui o perfil das pessoas procuradas pela equipe do Periferia na Academia e nos concedeu o depoimento acima para ilustrar os posts técnicos que vínhamos realizando até então. Há também dois links no postagem para saber mais sobre ele.

    Atenciosamente,

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